O Olhar

 

O olhar diz tudo e através dele a gente também entende tudo.

Durante a pandemia, as visitas à minha mãe têm sido controladas e com o tempo contado, para evitar ao máximo a exposição a qualquer possibilidade de contágio. Durante algum tempo, as visitas foram suspensas e quando voltaram o encontro está sendo feito com uma distância de segurança e, óbvio, de máscara.

Durante o período em que ela não podia receber visitas, os encontros eram feitos via telefone, ligações de vídeos. Para minha surpresa, minha mãe olhava e me via no telefone e me reconhecia! Não sei o que passava na cabeça dela, afinal ela está em um estado bem elevado de demência e, apesar de “assistir” televisão, a situação em me ver em uma tela tão pequena de celular, poderia não surtir efeito, mas, surtiu! Ela interage, sorri, manda beijo! Ficava emocionado toda vez que a via por vídeo.

Voltando às visitas presenciais, achei que a interação não seria das melhores, será que ela iria entender quem era a pessoa de máscara? Para minha surpresa, foi excepcional! Ela olhava, ria como uma criança tímida e observava cada gesto meu! Mais surpreso ainda fiquei quando eu fazia expressões com fazia antes da pandemia (cara de raiva, cara de triste, sorria) e ela imitava minha expressão! Ou seja, mesmo vendo somente os meus olhos, ela entendia o meu gestual e lia meu olhar! Mesmo de máscara, quando eu fazia cara de invocado, ela fazia também, quando eu sorria, ela também sorria.

O mesmo acontece com o olhar dela. Sei quando ela está “distante”, quando não quer muito papo e quando quer participar mais. Percebo o interesse, a dispersão e até mesmo curiosidade em seu olhar!

Não temos respostas para muita coisa em relação à demência e Alzheimer, e algumas dessas respostas podem ser referentes à esta “memória” afetiva que fica escondida em algum cantinho. Sei que ela não se lembra mais que eu sou o filho dela, mas, sei que existe um enorme carinho toda vez que ela me vê! Um sentimento inexplicável, puro, que mesmo com a memória muito fraca, se é que ainda existe, ela demonstra. Até mesmo de máscara!

É gratificante, é emocionante! Mãe é mãe, né, até mesmo nessas circunstâncias!