Ente querido não é paciente


Pai e mãe não são nossos pacientes.

Não podemos confundir as coisas: pai, mãe, avô, avó, enfim, qualquer querido próximo que esteja doente, principalmente em se tratando de demência ou alzheimer, temos que ter consciência que continuam sendo o que são: pai, mãe, avô, avó... E não nossos pacientes. Mesmo que a gente seja da área de saúde. Não é tão simples assim.

Digo isso porque, quem cuida de uma pessoa doente e tem outros afazeres, acaba não tendo tempo e oportunidade de tratar como uma pessoa querida e sim, como um paciente. Por mais que tenha amor, carinho e trate da melhor maneira possível, com o tempo o tratamento vai mudando, se tornando “profissional” e isso não é bom, principalmente para o doente.

Não dá para confundir as coisas ou achar que não vai confundir. Escrevi algo bem parecido em http://www.sobreidosos.com.br/2019/01/mais-amor-mais-proximidade.html

A preocupação maior é o bem estar, mas, você vai estar envolvido com as obrigações necessárias para complementar este bem estar: acompanhar medicação, comprar remédios, dar banho, cortar cabelo, cuidar das unhas, levar a consultas, fazer exames, observar se está se alimentando bem, se está fazendo xixi e cocô direito, se tem alimentação e medicação comprada, fraldas também. E qual o tempo que sobra para você curtir seu ente querido? Em que momento você vai olhar nos olhos dele como realmente deve olhar? Quando você vai poder se preocupar com o que passa dentro dele? Quando você vai fazer aquele carinho demorado ou dar aquele abraço tão necessário? E as respostas: quando você estiver tão cansado que nem se lembrará disso? Quando você for dormir pensando em como será o dia seguinte? Ou será que é besteira pensar nisso?

Não é besteira. O idoso precisa de afago, contato físico, olho no olho, afeto. Tem que ser um super herói para dar conta de tudo. Caso você não hospede em uma casa geriátrica e não tenha condições de manter um bom grupo de profissionais no cuidado (cuidadores, fisioterapeuta, fonoaudióloga), você precisará dar conta de todas as atividades descritas antes e é bem cansativo e você ficará exausto, então, procure dividir com o máximo de pessoas possíveis, para que cada um tenha a oportunidade de cuidar um pouco e desfrutar da companhia deste ente querido sem a obrigação que um paciente traz. O cuidado não pode ficar automático, afinal, é uma pessoa querida, não é um paciente e é uma pessoa importante para você e sua família.

Por mais que a demência esteja avançada, algum tipo de sentimento permanece e acho que isso é inexplicável, pois, lembranças, costumes e ideias, se foram ou estão indo embora, mas, o sentimento, a impressão que dá, é que, mesmo não sabendo quem somos exatamente ou sem entender direito, existe um afeto que é muito especial. E esse sentimento é o que tem e que deve ser melhor aproveitado! São instantes muito valiosos.