Visitas nocivas


AS VISITAS NOCIVAS

Um dia eu entendi: eram pessoas influenciando e atrapalhando o tratamento e adaptação. Simplesmente a pessoa que “cuidava” dela em casa, a parente, falava de maneira discreta para minha mãe para que ela chorasse e pedisse para sair sempre eu que fosse lá. Ela acabava chorando e ficando desesperada mesmo sem entender, mas, simplesmente pelo fato de que pessoas conhecidas diziam isso para ela e a amedrontavam, ela fazia. Ela começava a chorar e meu pai entrava em desespero por vê-la assim e acabava chorando também e tendo uns desmaios.
O médico indicou que levasse meu pai ao neurologista, para que investigasse a origem dos desmaios. Levei meu pai ao neuro e ao cardiologista e vários exames foram feitos, inclusive uma ressonância magnética. O resultado foi que meu pai estava com demência vascular e arritmia cardíaca além das consequências. A parte vascular cerebral estava bem comprometida e a cada emoção forte que ele tinha, a arritmia cardíaca piorava, pois, causava um problema no bombeamento do sangue e não oxigenava o cérebro e ele acabava tendo uma isquemia, que eram os desmaios. Pelos exames, ele já tinha o problema há uns cinco ou seis anos e não se tratou direito e eu nada sabia, ele nunca tinha me falado. O médico explicou que tanto o entupimento quanto o ressecamento das artérias vão surgindo e os sintomas, se não forem bem observados, passam despercebidos até o momento que acontece uma isquemia.
Em uma das visitas em que minha mãe chorou muito, meu pai teve uma isquemia muito forte e levamos para o hospital. Foi quando decidi que as pessoas que causavam isso neles não poderiam mais estar perto, mas não sabia como fazer.
Tive que me dividir entre minha mãe na casa geriátrica e meu pai no hospital. O contrário do que aconteceu antes. Além da preocupação de que não fizessem mais mal aos dois. O médico da casa e a assistente social concluíram que as visitas deveriam ser assistidas, ou seja, na presença de um técnico, para que não houvesse algum tipo de situação que prejudicasse o bem estar dos meus pais.
Procurei a Promotoria do Idoso e descrevi toda a situação e, para o meu alívio descobri que podia sim fazer isso, já que era por recomendações médicas. No mesmo dia solicitei, tanto na casa quanto no hospital, que as visitas fossem acompanhadas.
Não proibi a presença de ninguém, apenas informei que para vê-los teria que ser na minha presença ou na presença de um técnico da casa e eu tinha respaldo jurídico para isso.
Meu pai ficou internado dois meses por causa desse episódio que causou tal isquemia. Nesse tempo ele não podia fazer a fisioterapia que precisava, pois, em hospital, só se faz a fisioterapia própria para internados e não ajudava no caso dele. El também contraiu duas vezes infecção urinária, o que adiava sempre sua alta.
Enquanto isso, na casa, as visitas foram diminuindo drasticamente, afinal, não valia a pena visitar só por visitar. Eles queriam pressionar para que minha voltasse aos “cuidados” que tinha antes. E foram sumindo. Também, em momento algum, apareceram para visitar meu pai no hospital.
Após os dois meses, meu pai voltou para a casa geriátrica. Ele teve uma piora muito grande, tanto física quanto emocionalmente. As infecções, a falta da fisioterapia, a distância da minha mãe, tudo serviu para deixá-lo mais abalado e debilitado. Além de tudo colocou uma sonda GTT. P médico disse que ele não teriam mais condições de comer sozinho e necessitaria daquela sonda. Fiquei muito triste em ver que depois de uma melhora tão grande, ele teve seu estado de saúde tão prejudicado e ainda mais por causa de pessoas interesseiras.
Já minha mãe, com as visitas controladas e depois sem as visitas, pois deixaram de ir, teve uma adaptação e melhora muito grande na casa. Não chorava, interagia, sorria mais e estava comendo direito! Coisa que não fazia em casa. Estava voltando ao seu peso normal, em casa estava quase obesa por causa da qualidade da alimentação: davam tudo o que ela NÃO podia comer! Doces, fritura e balas. Na casa, ela fazia as seis refeições corretamente e até pedia água! Com a melhora e adaptação dela, vi que o estava fazendo mal eram as visitas.
Na volta do meu pai, informei à enfermeira da GTT e mostrei a documentação médica. Ela disse que não me preocupasse, pois, ele voltaria a comer sozinho. Para a minha surpresa, no mesmo dia ele já estava tomando sopa pela boca e não pela sonda! Durante a semana teve alimentação pastosa e logo depois já estava se alimentando por conta própria! Fiquei muito feliz e mais uma vez percebi o tratamento e o carinho que ele recebia. Tenho certeza que em casa não teriam a paciência e a técnica e fazê-lo voltar a comer. Com o tempo ele melhorou em muitas coisas, mas, a parte motora, que já estava com problemas, ficou bem pior.
Foi mais um período difícil, afinal, além dos problemas de saúde tinha a decepção com esses “amigos” e parentes. Era remar contra a maré. Todo o trabalho que estava sendo feito para o benefício dos meus pais, estava sendo jogado fora e custando a própria saúde deles por causa de pessoas ignorantes, mal informadas e oportunistas. E falsas, muito falsas, afinal, na minha frente, agiam de outra forma e a sós, de outra. Mais ainda bem que tudo foi descoberto e consegui livrar meus pais de tal influência.
Passado isso a melhora se deu dentro do possível. Minha mãe se recuperou do pé aos poucos, apesar de ficar com alguma dificuldade e meu pai melhorou mas não voltou ao estado que estava antes de passar os dois meses no hospital.
Aprendi que temos que acompanhar as possíveis consequências do tempo que passa. Exames periódicos são sempre necessários. Eles vão mostrar qualquer alteração e no começo é muito mais fácil de tratar e evitar a evolução.

VOLTANDO AO DIA A DIA
Com as visitas controladas, as coisas foram se ajeitando e foi ótimo para a melhora deles. É claro que os “amigos” e parentes se indignaram, afinal queriam continuar a missão de atrapalhar a estadia deles na casa geriátrica para que eles voltassem para casa e assim continuar a situação de oportunismo e falsa amizade. Por outro lado, outra parte da família colaborou e muito, dando apoio, participando e compreendendo tudo o que estava acontecendo. Foi muito importante para meus pais. Os demais familiares continuaram distantes, provando também que pouco se importavam, o que, aliás, foi ótimo, pois, como sempre falo: muito ajuda quem não atrapalha.
A melhora dos meus pais foi muito boa. Digo em relação a parte física e o que podia melhor, pois, como sabemos, a demência é uma doença degenerativa e com o tempo a capacidade cognitiva, memória, concentração e pensamentos já não são mais os mesmos e vão se transformando, diminuindo.
A parte física melhorou dentro do possível. Passaram a dormir nos horários, comer nas horas certas, beber água e tomar os remédios direito. Com isso a pele, os movimentos e o metabolismo ficaram bem. Mesmo com o pensamento e a memória afetados, eles ficaram mais espertos e atentos. Minha mãe perdeu peso. Todo o excesso que atrapalhava, foi embora! Sua aparência ficou mais saudável. Meu pai parou de ter os “apagões” que tinha com frequência. Mesmo com as sequelas, ele ficou bem. Em casa ele ia ao banheiro uma vez por semana e na casa geriátrica conseguiu regular o intestino! Fiquei muito impressionado e feliz com a melhora geral dele.