OS FILHOS QUE CUIDAM DOS PAIS
Uma coisa que é ninguém repara ou percebe ou
lembra, são das pessoas que cuidam de alguém doente, seja idoso ou criança.
Sejam filhos, irmãos, amigos, parentes, enfim, alguém que fica com um doente, que
cuida, faz companhia, dá remédio, etc. Falo
dos que fazem sem receber por isso!
Uma criança doente chama a atenção, todos
ficam com pena, comentam, enfim, é uma mobilização só! E, é claro, ninguém faz
nada, só comenta e tem pena. Mas não param para imaginar que os pais sofrem
também! Um pai e uma mãe que tem um filho com uma doença grave, de repente,
sofre mais do que a própria criança que, geralmente, não tem muita noção do que
está passando. Pode passar mal, sentir dor e fazer algum tratamento, mas como é
criança age com mais leveza e por ser o centro das atenções, será distraída por
outras coisas. E os pais? Como ficam? Como trabalham, cuidam da casa, cuidam de
outro filho e ainda tem que cuidar do filho doente com a mesma força e coragem?
As visitas vêm e vão, fazem o papel delas: de
visitar. Conversam, dão palpites, contam casos parecidos e vão embora. Ninguém
fica para consolar aquele pai ou aquela mãe que está desesperado em virtude da
doença do filho, que está cansado por ter passado o dia em um hospital junto
com o filho, que está abalado emocionalmente por ver o filho doente. Raramente
alguém se oferece para lavar uma louça, comprar um remédio na farmácia, pagar
uma conta no banco, ajudar a arrumar a casa, fazer compra, ajudar em alguma coisa!
Enfim... um caso de doença é mais uma situação em uma casa que já tem várias
coisas para serem feitas e que têm que ser feitas! A família fica meio perdida,
e na melhor das hipóteses pode aparecer uma avó ou uma tia para ajudar um
pouco.
Com o idoso, não! Aquela avó ou aquela tia é
quem está doente ou que não tem como ajudar por estar idosa também! O filho
dessa pessoa com Alzheimer ou demência ou qualquer doença degenerativa não vai
ter muita opção de pessoas para ajudarem, a menos que pague. Mesmo que tenha
mais irmãos, sempre sobra para um! Elegem um filho para cuidar e pronto!
Claro que o centro das atenções tem que ser o
idoso, mas raramente alguém olha para quem está ao lado. Aquela pessoa que
cuida do pai ou da mãe, geralmente trabalha, tem sua casa, estuda, tem sonhos,
tem afazeres e não pode mais se dedicar à própria vida por ter que ficar mais
disponível para dar atenção ao doente. E ninguém se oferece para ajudar a lavar
uma louça, comprar um remédio na farmácia, pagar uma conta no banco, ajudar a
arrumar a casa, enfim... conversam, dão palpites, mas fica só nisso. Nunca têm
tempo para ficar sequer um pouco com o idoso enquanto o filho resolve suas
coisas.
Pensei nisso quando uma enfermeira disse que
eu tinha que cuidar de mim, da minha saúde, senão como iria cuidar dos meus
pais? Lembrei em seguida que além da minha saúde, também tinha a minha vida,
meu trabalho, minhas coisas. Minha casa, fazer mercado, pagar contas, minhas
roupas. Ninguém se oferecia para me ajudar no meu dia a dia.
Resumindo: se omitem quando é para pensar em
quem está cuidando, simplesmente por falta de atenção ou para não ter que
ajudar mesmo.
A AJUDA QUE ATRAPALHA
Um idoso que esteja em processo de demência,
seja ela qual for (Alzheimer, senil ou vascular) e tiver suas funções motoras
afetadas, a tendência é de se mover cada vez menos.
Cada caso é um caso MESMO. A demência pode
gerar várias consequências, entre elas a falta de interesse em leituras, ver
TV, conversar, etc. Em alguns casos, como falei antes, os movimentos podem ser
afetados devido a alguma isquemia. Ou seja, várias coisas que o idosos fazia
ele vai deixando de fazer.
As pessoas quando dizem para o idoso levantar,
para andar, para ler, ver TV, fazer palavras cruzadas, etc e que só depende
deles a melhora, acham que estão dando força ou apoio e que eles vão passar a
fazer tudo aquilo só porque ela falou!
Na verdade, isto não é apoio moral e sim uma
tortura, porque o idoso não tem noção do que está acontecendo, e o pouco de
noção que tem acaba ficando angustiada porque percebe que está limitado, que
não pode se mexer, andar e que está debilitado, que não se lembra muito das
coisas e que não consegue fazer tudo aquilo por mais simples que fosse antes,
que não consegue se concentrar. É muito ruim.
Cabe aos profissionais da área de saúde
estimularem, pois saberão fazer nas horas certas e da maneira certa, observando
a possibilidade e habilidade de cada um no momento de vida que se encontram.
Outra situação ruim são aquelas pessoas que
querem dar ordens quando chegam ao hospital, casa ou clínica que o idoso está.
Não fizeram enfermagem, não são médicos nem cuidaram de alguém doente e querem
mandar em tudo, criando um problema a mais! Mandam fazer e acontecer e todo o
trabalho que foi feito para o idoso se tranquilizar e se manter calmo é posto
abaixo em menos de dez minutos. Desestruturam o idoso, que é quem sofre mais
com isso, pois fica agitado e nervoso.
Mais uma situação que mexe com todo o trabalho
de bem-estar do idoso é a visita não aceitar a “viagem” do idoso e querer
convencê-lo da realidade. Se ele acha que está em outro lugar não tem como
dizer o contrário, isso só vai deixa-lo mais triste, mais confuso. O jeito é
concordar, ir entrando na onda, pois é fácil para a gente (ou menos difícil)
entrar no mundo deles do que trazê-los de volta para o nosso. Se o quadro de
demência está instalado não há o que fazer, infelizmente. Deveria ter sido feito
antes, ou o próprio idoso deveria ter se cuidado e não postergado seus exames
de rotina para acabar em tal situação. Mas, uma vez que os momentos de falta de
memória ou confusão mental estão instalados, não tem jeito. É melhor aproveitar
os momentos de lucidez e concordar com o restante. Pedir para lembrar,
discordar, brigar, achar que é uma brincadeira ou corpo mole, é péssimo. Se faz
menção às memórias antigas, ainda é bom, pois lembra do que vivenciou e
geralmente de coisas boas, então é melhor assim, afinal ainda é uma lembrança,
mesmo que antiga. Se tentar convencer, o idoso não vai conseguir e vai ficar
mais perdido ainda.