É bem provável que
todos nós vamos passar pelas mesmas fases.
Um dia crianças,
depois jovens, adultos e idosos.
Cada cinco anos fazem
muita diferença em tudo! Chega uma hora que estamos mais perto do fim do que do
começo e aí ficamos preocupados por nós e pelos outros. Como vou cuidar deles?
Quem vai cuidar de mim? Como vai ser daqui a cinco anos?
Só saberemos a
resposta quando chegarmos lá. E enquanto isto não acontece, acho que saber
viver deve ser a melhor maneira de saber chegar lá. Para nós e para os outros.
E saber viver não é só aproveitar loucamente a vida, amar, viajar, festejar. É
também prevenir, cuidar da saúde física, mental e espiritual. E ter informação.
Não sou filho único,
mas sou o único filho. Meu irmão faleceu quando éramos pré-adolescentes.
Sempre procurei ficar
o mais perto possível dos meus pais. Tivemos nossos momentos de alegrias e
brigas como todas as famílias têm. Hoje percebo que éramos e, ainda somos, mais
amigos do que eu imaginava. Apesar de tanta coisa...
Meus pais sempre foram
muito independentes. Chegaram aos setenta e tantos anos muito saudáveis e
fortes. Pelo menos aparentemente.
Minha mãe era muito
inteligente e espirituosa, dona de um humor rápido. Talentosa, fazia trabalhos
manuais e tocava piano. Cozinhava muito bem. Tinha um bom gosto simples e
refinado ao mesmo tempo. Às vezes era uma pessoa não tão fácil de lidar, mas
era dócil, generosa e simpática. Mesmo sendo muito bonita e admirada por todos,
tinha seus complexos.
Meu pai não teve uma
vida muito fácil. Teve muita responsabilidade muito cedo. Muitas coisas eu só
fui saber ou perceber agora. Charmoso e boa pinta, o que era motivo de muitas
brigas entre eles. Irônico, também, quase sarcástico e muito duro em suas
colocações. Mudou sensivelmente com a idade, se tornando mais compreensivo e
calmo.
Ambos muito ciumentos.
Fui conhecê-los de verdade depois que a autocensura deles foi embora junto com
a lucidez. Eles escondiam um lado muito diferente do que eu podia imaginar.
Coisas boas e outras não. Seres humanos, enfim...
Minha mãe teve uma
vida igual ou parecida com a de muitas mulheres da sua geração. Cuidou da casa,
do marido e dos filhos. Durante muitos anos se dedicou também a uma casa de
caridade aonde trabalhava como voluntária. Gostava muito de passear no
shopping, comprar roupas e dar presentes. Vaidosa, gostava de andar arrumada.
Tinha seus compromissos: sair com uma amiga um dia na semana para tomar um mate
no shopping, ir ao centro, fazer compras, pintar cabelo, fazer tricô (para
fazer doações de roupas de bebê) e coisas comuns do dia a dia.
Meu pai era aposentado
há muito tempo, frequentava palestras em centros espíritas, reuniões. Gostava
de andar na rua, de filas de banco, mercado ou loteria e uma conversa para
jogar fora. Acompanhava minha mãe nas consultas e exames, gostava de estar com
seus irmãos e sobrinhos com os quais eu e minha mãe não tínhamos praticamente contato
algum.
Moravam sozinhos e
tinham a presença de uma pessoa que ia duas vezes por semana para dar uma
arrumação na casa, passar roupas e ajudar na cozinha. Nos outros dias eles
mesmos faziam as coisas.
Nos últimos anos minha
mãe foi se afastando dos afazeres que gostava. Penso, hoje, que por causa da
doença. Perdeu o interesse em várias coisas, passou a criticar tudo ou simplesmente
dizer que não estava a fim de fazer isto ou aquilo. No começo foi tudo muito
lento e eu não entendia, achava que era uma fase dela.
Meu pai foi deixando
de se preocupar com a aparência: andava com roupas largas, não fazia questão de
estar bem vestido. Deixou a vaidade de lado. Preocupava-se muito com sua saúde,
mas não da maneira correta.
Eles gostavam de
comida fresca e variada, o que deixou de acontecer com o tempo. Alimentos
estragavam na geladeira, se alimentavam de qualquer maneira, dormiam muito.
Pouco se importavam para qualidade dos alimentos e da própria vida. Fui ficando
preocupado com aquilo e o mais estranho era que não reclamavam, era como se
tudo fosse natural e estivesse tudo normal como era antes. Eram mudanças que
poderiam ser encaradas como um cansaço da idade ou uma simples mudança de
hábitos ou disposição, mas não era.
Jamais iria imaginar
que essa mudança ia acontecer: virei pai dos meus pais.
O TEMPO
Com a chegada da idade muitos
problemas aparecem ou pioram: vasculares, ortopédicos, cardíacos, neurológicos,
etc.
Acho que ainda não somos
preparados para envelhecer nem física nem mentalmente. A máquina humana foi
projetada para durar menos, porém com as novas tecnologias e medicamentos, estamos
vivendo mais, só que sem saber como lidar com as consequências da longevidade,
pois, nem tudo pode ser previsto, mesmo com todo avanço.
Sempre falo que são a exceções os
idosos que passam dos setenta anos e não tem problemas. A grande maioria já
sofre de algum tipo de mal: os diversos males do cérebro (demências, Alzheimer,
isquemias, etc.), artroses, diabetes, pressão alta, depressão, solidão e outras,
enfim, uma infinidade de doenças que atingem também pessoas mais jovens, porém
nos idosos as consequências são mais cruéis. Também não fomos criados para
conviver com isto. Não aprendemos a lidar diretamente com tal realidade. Não ensinam
na escola e nem em outro lugar.
Meus pais foram saudáveis até
certo ponto. Física e mentalmente sempre corresponderam. De uma hora para outra
(?), problemas que estavam se criando mostraram a cara. Nada foi de repente,
vejo agora.
Desde meados de dezembro de 2014
comecei a notar algumas atitudes diferentes na minha
mãe: começou a se isolar das pessoas, reclamava de tudo e colocava defeitos em
todos. Como era um pouco carente e com um certo de complexo de inferioridade, achei
que era em virtude disso. Com o tempo foi deixando de sair e se relacionar com
algumas pessoas. Passou a ter contato mínimo com algumas mais chegadas e da
família. Até saía, mas reclamando. Parecia que era obrigada a fazer as coisas.
Cismava com
secretárias dos médicos que ia, chegando a procurar outro profissional
simplesmente por “não gostar do jeito daquela secretária”. E eu achava que era
mania dela, do seu histórico de complexos. Começou a dormir muito. Já não era
de comer comida e passou a se alimentar mais de besteiras ainda: doces,
salgadinhos, balas.
Três episódios que me
chamaram a atenção e que só mais tarde percebi que já era algum sintoma: um dia
fui almoçar na casa dela e ela falou para a moça que a ajudava a servir uma
salada de tomates sem casca.
Perguntei o que era aquilo e ela disse que minha mãe tinha mandado fazer dizendo
eu gostava mais daquele jeito, sendo que eu nunca havia falado nada! Outra
situação foi que ela tinha mandado fritar batatas na margarina e foi a mesma
história: disse que eu preferia assim. Na época achei que ela poderia ter visto
em algum programa de TV e quis fazer em casa e acabou perdendo algum detalhe da
receita, sei lá, e por isso que deu errado. Depois do terceiro episódio, onde
ela regou a mesma planta várias vezes a ponto de transbordar o vaso e molhar
todo o chão, percebi que havia algo errado, até porque quando eu falei ela
ficou calada, sem ter uma reação sequer.
Éramos muito próximos
e sempre conversávamos e fui vendo seu comportamento mudar. Quando notei perdas
de memória e algumas (para não dizer várias) mentiras resolvi procurar os
médicos que tratavam dela.
Primeiro fui na
psiquiatra. Como ela sempre foi muito lúcida e inteligente e ia acompanhada
pelo meu pai, nunca achei necessidade de ir nas consultas. Achava estranho a
quantidade de remédios e o tempo que os tomava, anos e anos e os mesmo remédios.
Durante a consulta percebi que a médica simplesmente cumprimentou, perguntou
duas ou três coisas “de sempre” e repetiu a receita, ou seja, se havia algo de
novo não era importante. Achei estranho, aliás, tudo era estranho: a médica, a
consulta e os pacientes na sala de espera. Fui ler a respeito dos remédios e vi
que provavelmente faziam mais mal do que bem, principalmente o Rivotril. A
psiquiatra receitava Rivotril há oito anos! Não podia ser possível uma mesma
substância tão discutida em revistas médicas, ser administrada por tanto tempo!
Li que acumulava no cérebro e que era para ser tomado por um tempo determinado,
além de outras coisas. Tinha também os outros medicamentos para depressão.
Fiquei meio assustado. Resolvi procurar uma neurologista.
Durante a consulta com
a neurologista percebi outra diferença no comportamento. Falou pouco, não
reclamou de nada e na saída ainda inventou algumas coisas que teriam acontecido
no consultório. Como eu estava lá o tempo todo, pude verificar que estava
mentindo.
A médica tinha solicitado
uma tomografia do crânio e o resultado foi que já havia um comprometimento da
massa branca, a tal da desmielinização. Minha mãe foi diagnostica com demência senil. Informou que era um
quadro comum para a idade e para pessoas que tiveram hipertensão além de não
tratarem direito de outras coisas. A parte cognitiva e de memória estava bem
afetadas. O que tinha perdido não voltaria mais, mas, teria como retardar o
processo tomando as devidas providências que eram tomar a medicação adequada, se alimentar bem, beber bastante água e
procurar fazer atividades mentais, muitas atividades mentais. Como tomava
outros remédios (para hipotireoidismo, hipertensão e depressão) deveria ter uma
disciplina ainda maior. Eu ainda não tinha noção do que estava por vir e o que
significava aquilo tudo e achava que ela ia fazer o que foi indicado e que
apresentaria melhora em pouco tempo. Achava que demência senil era bem
diferente de alzheimer. Alzheimer é um dos vários tipos de demência. E eu sem
entender direito.
Para minha surpresa
passou a fazer menos do que já fazia. Tomava os remédios mas continuava bebendo
pouca água. Alimentação? Passou a comer mais besteiras ainda e o pior, com o apoio de quem acompanhava ela em casa
e que sabia das orientações médicas. Insisti várias vezes para fazer atividades
físicas e mentais, palavras cruzadas, internet e até um curso que exercita a
memória.
Um dia a levei em um curso
e ela hesitou na entrada. Disse que não entraria e que caso eu insistisse,
faria um escândalo. Fiquei desnorteado, sem ação. Achei que era mania de gente
idosa, complexos passados e temperamento forte, mas, que em algum momento,
mudaria de ideia e faria tudo. Tinha um notebook e internet em casa, mas se
recusava a aprender mesmo com um professor particular.
Em uma consulta com a
geriatra tive mais respostas: ela avaliou todos os exames e remédios que
tomava. Minha mãe falava sempre muito pouco, dava a entender para a médica
estava bem e eu é que estava inventado coisas. Comentei da mudança do
comportamento e escutei a uma frase que me deixou impressionado e que mudou
minha maneira de perceber as coisas: a médica disse que as pessoas não mudam,
elas passam a ser mais o que são, elas pioram. Ou seja, se é tímida, passa a
ser mais, se é teimosa, passa a ser mais e assim por diante. Foi quando minha
ficha começou a cair.
As instruções foram
mantidas e o pedido em casa também: água, alimentação e atividades. Todos os
dias eu passava na casa dos meus pais e fazia questão de lembrar, cobrar, de
pedir e de estimular, mas não adiantava, pois, continuavam dando doces e
besteiras para ela comer no lugar das refeições. Como minha mãe sempre foi
chata para comer, ela se aproveitava do “tratamento” dessa pessoa que
trabalhava na casa dela. Essa pessoa que colaborava nas atividades da casa, era
uma parente.
Minha mãe foi piorando
a cada dia. Não ia ser fácil tentar cuidar de uma pessoa com o temperamento tão
complicado e ainda mais sem a colaboração da pessoa que podia ajudar.
Junto com a situação
da minha mãe, meu pai começou a demonstrar que necessitava de alguns cuidados
também. Comecei a observar que ele andava com a calça urinada e procurei, de
maneira sutil, saber o que estava acontecendo. Ele havia operado próstata há
quinze anos e fazia acompanhamento médico. Disse que era incontinência e que
era consequência da cirurgia. Sugeri que procurasse um médico, já que tal
situação era constrangedora também para quem estava perto. Ele disse que já
havia falado com o médico e que estava tudo bem. Como meu pai sempre prestava
mais a atenção no que diziam seus irmãos, os procurei para que o convencessem a
resolver a situação, caso fosse incontinência, poderia tentar uma cirurgia. Não
resolveu. Hoje vejo que a falta da vaidade na época já era algum sinal do seu
problema. Sem vaidades, não tinha noção de como se vestia e andava. Sua
preocupação maior era o acompanhamento urológico e a queixa de artrose do
joelho. Perguntava e ele dizia que estava tratando e que fazia fisioterapia. Como
era lúcido e muito independente, acreditei.
Em abril de 2014, meu
pai me ligou querendo falar comigo. Ele estava com todos os exames feitos
(inclusive os de risco cirúrgico) e tinha que fazer uma cirurgia no joelho.
Mais uma vez eu não sabia de nada. Em tempo: quando ele operou próstata, eu só
soube o motivo da cirurgia depois que ele saiu da sala cirúrgica. Ele me avisou
de manhã que faria uma cirurgia à tarde! Agora a situação praticamente ia se
repetir se não fosse o empréstimo que ele queria fazer para pagar a operação e
precisava de mim para agilizar senha de internet junto ao banco, etc. os irmãos
dele sabiam de tudo e eu e minha mãe, não! Para entender o que estava acontecendo
fui com ele e um tio ao ortopedista que o estava acompanhando. Depois da
consulta, onde ficou esclarecido o motivo e os valores, fomos pensar na
operação. Falei que não precisava de empréstimo já que poderia tentar fazer
pelo hospital a que tinha direito, que era considerado um ótimo hospital e
seria mais confiável.
Nesse meio tempo
apareceu uma hérnia umbilical. Ele reclamava de incômodo e foi ao médico. Um dia
recebi um telefonema da minha tia que disse que ele estava no hospital. Quando
cheguei lá encontrei-o com minha mãe na emergência e ele me disse que estava
aguardando para fazer a cirurgia naquela noite. Nem com soro estava e nem
atendido tinha sido! Achei que era nervosismo dele, mas era outro sinal de uma
situação que se apresentava e que nem eu nem os outros, percebíamos. Após o
atendimento médico, meu pai foi encaminhado para a cirurgia na semana seguinte.
Tivemos que suspender o andamento da cirurgia do joelho. Ele fez a cirurgia de
hérnia e ficou internado uns três dias. Fiquei com ele no hospital, pois, pela
idade tinha que ter acompanhante, sendo que minha mãe também não dormia sozinha
em casa. Ou seja, tive que pedir (pagar) para alguém ficar com ela enquanto eu
acompanhava ele. Ajuda paga. E as novidades continuavam.
Nos dias que fiquei no
hospital como acompanhante eu não dormia, pois, além de ser enfermaria, eu
ficava em uma poltrona, sem ter como deitar. Sem contar com o barulho de um
baile funk que vinha da favela ao lado do hospital. E também eu tinha que
trabalhar durante o dia, passar para ver como minha mãe estava, fazer compras e
tomar todas as providências para que nada faltasse para os dois.
Praticamente ninguém se ofereceu
para ajudar de maneira efetiva. Palpiteiros começaram a aparecer. Para a
“ajuda” que já começávamos a ter de terceiros foi oferecido um pagamento que
foi devidamente aceito. Podemos chamar isto de ajuda?
Depois da alta eram
necessários alguns dias de repouso para recuperação. Já estávamos em junho (2014)
e o assunto do joelho voltou. Decidimos procurar o médico do hospital para nova
opinião e avaliação na tentativa de fazer a cirurgia por lá. Só me restava
acompanhar e apoiar sua tentativa de melhora até porque tamanha era a convicção
dele e do meu tio em operar o joelho, sem contar que a ansiedade dele aumentava
a cada dia que passava. Marcamos a consulta com o outro médico.
No consultório, meu pai se abateu
da sala de espera até o consultório! Choroso, não falava direito. O médico logo
achou que ele sentia muita dor. Penalizou-se e disse que tiraria ele de tamanho
sofrimento. Meu tio, como sempre, calado, afinal só fala nas horas erradas. Conversei
com o médico, mostrei os exames para saber mais sobre artrose e da necessidade
de uma cirurgia. O médico disse que era uma cirurgia muito agressiva, o
paciente perdia muito sangue, enfim, era um procedimento muito invasivo, porém
necessário em caso de dores extremas, o que justificaria o risco em pacientes
muito idosos. Perguntei a respeito do mal-estar e do desequilíbrio que meu pai
sentia e o médico disse que não tinha a ver com a artrose, que poderia ser algo
muscular ou neurológico e que a cirurgia tiraria a dor e não esse tipo de sintomas
que ele sentia. Dito isto, fez o encaminhamento ao hospital para que
fosse realizada cirurgia o mais breve possível.
Não quis desautorizar meu pai sem
antes conversar a respeito do assunto, sem a presença do médico. Na saída falei
seriamente com ele e meu tio a respeito do que ele sentia, da dor que ele NÃO
sentia e dos riscos. Lembrei que ele continuaria sentindo o mal-estar e o desequilíbrio.
Não adiantou minha insistência para fazer uma investigação sobre tais sintomas:
ele queria operar o joelho e tanto ele como meu tio estavam convencidos de que
tudo ficaria bem. Quanto mais eu falava mais tenso ele ficava e insistia na
cirurgia, sempre com o apoio do irmão. Não tive mais argumentos até porque não
imaginava que ele poderia estar sentindo as consequências de um problema
neurológico ou vascular, pela convicção dele e das coisas que ele sentia e
escondia.
Finalmente a cirurgia foi
realizada na segunda quinzena de setembro. O pós-operatório foi traumático: meu
pai desorientou por alguns dias, recebeu transfusão de sangue (acabamos
descobrindo também que ele tinha uma anemia crônica) e ficou no hospital mais
dias do que o esperado, o que causou “síndrome do confinamento” deixando-o mais
desorientado ainda.
Além disso ele saiu da cirurgia
com uma sonda urinária – coisa que até então poderia ter sido “normal” se não
fosse o fato de termos descoberto que ele não tinha passagem pela uretra e que
foi feita uma cistostomia, onde a sonda sai pelo abdômen e não pela uretra. Mais
um problema além do desequilíbrio, do mal-estar, da anemia e da artrose. A
situação foi a seguinte: devido a operação de próstata anos atrás, meu pai teve
estenose uretral que é o estreitamento da uretra. É um sintoma comum nestes
casos e deveria ter sido relatado ao médico para que tomasse as providências
necessárias que era uma simples cirurgia para “alargar” o canal da uretra. Mesmo
indo periodicamente ao médico, meu pai nunca se queixou que não urinava direito
nos últimos tempos. Não entendo como o médico não notou que ele chegava lá
urinado e não perguntava a respeito disso. Perguntei a ele e ao meu tio que o
acompanhava nas consultas o porquê da omissão da situação. Meu pai nada falou e
meu tio disse que ia ao hospital com ele, mas não entrava no consultório, só ia
passear! Fiquei meio revoltado, pois,
poderia ter evitado tal situação que era passar por mais uma cirurgia, a da
estenose!
Conversando com a médica no
pós-operatório, ela me informou que a bexiga enchia demais, pois ele não
conseguia urinar por causa do estreitamento, assim, o volume acabava saindo aos
poucos pelo canal da uretra, ou seja, ele urinava constantemente meio que sob
pressão. A bexiga cheia pressionava a uretra e a urina saía. Este era o motivo
que ele vivia molhado, não era incontinência urinária. Pelo relato da médica,
os rins estavam começando a ficar comprometidos. Acho que a operação do joelho
serviu para que fosse descoberto este problema e assim ter evitado um problema
renal grave.
Voltando ao pós: meu pai ficou
internado uma semana e fiquei lá nos quatro primeiros dias. Conseguimos uma
acompanhante, pois, eu tinha que trabalhar e dar assistência à minha mãe que ficou
em casa com uma parente só na parte da noite. Eu me dividia entre o hospital, a
minha mãe, meu trabalho e minha casa. Mais uma vez ninguém se ofereceu para
acompanhá-lo no hospital.
O cansaço começou a me bater.
A sonda urinária virou um problema
à parte. Em um primeiro momento meu tio disse que aquilo era um problema grave
e que poderia causar uma infecção. Meu pai entrou em pânico e passou a encarar
a sonda como se fosse um alien que saía dele. A cirurgia para retirada da sonda
e da estenose uretral estava marcada para início de dezembro e ainda era
setembro.
Vários sinais de que alguma coisa
estava errada começaram a aparecer sem que ninguém pudesse imaginar que já eram
problemas vasculares. Provavelmente a cirurgia do joelho, a anestesia, o pós
operatório, a perda de sangue, a anemia, a ansiedade (ele achava que ia sair da
cirurgia andando normalmente) e a sonda, mexeram muito com o estado psicológico
dele, que passou a ter várias alterações de humor e comportamento.