FALAR É FÁCIL
É muito interessante como tem postagens nas
redes sociais a respeito de idosos. Algumas dramáticas onde diz que eles não
podem ir para asilos ou casas geriátricas, que vão ser maltratados etc., outras
dizendo que estão em casa e que a família dá atenção; outras dizendo que estão
em casa, mas que a família os ignora. De um modo geral, a torcida é para que
permaneçam em casa, que não se deve hospedar idosos em lugares especializados.
Agora eu pergunto: quem fica em casa para
cuidar do idoso? Que tipo de tratamento o idoso dependente terá em casa? Será
que vai ter o tratamento correto?
Será que todas as famílias vão ter alguém para
ficar à disposição para dar banho, alimentação e remédios da maneira e na hora
certa? Algum parente vai largar o trabalho para se dedicar exclusivamente ao
idoso?
Se a família tiver condições de manter uma
estrutura de enfermagem e cuidadores, ótimo! Mas, não é bem isso que acontece.
Muitos ficam, eu disse ficam, com idosos
em casa e não cuidam dos idosos por causa das aposentadorias e pensões que
recebem e o idoso acaba sustentando outras pessoas, quando o dinheiro dele
deveria ser usado para ele! E estão sem se alimentar direito, sem remédios e
sem higiene.
Muitas pessoas se preocupam não com os idosos,
mas em mostrar que são bons filhos! Dizem que cuidam dos pais, mas a verdade é
outra. Se o idoso estiver com algum tipo de limitação ou demência a situação
piora. Mas o filho ou a filha querem e fazem questão de dizer que cuidam na
grande maioria (eu já presenciei) visitam muito pouco e dão menos atenção
ainda.
E no caso do idoso passar mal? E se ele se
engasgar com a comida ou bronco aspirar a água?
Fico pensando em quantos idosos faleceram por
terem sido tratado de maneira negligente em casa, muitas delas sem intenção,
claro, mas sem os devidos cuidados.
Quando a gente se percebe dos riscos de um
idoso dependente em uma casa, fica preocupado. É o remédio que não pode faltar,
é alimentação que tem que se dada na hora certa, é o cuidado para se alimentar
e até beber água!
Uma vez ouvi uma pessoa dizer que esqueceu
(esqueceu!) de dar o remédio de depressão para a mãe durante quinze dias!
Detalhe: essa pessoa mora na mesma casa que a mãe e esqueceu por quinze dias!?
Isso é cuidar direito?
O lugar para hospedagem, claro, é muito
relativo, mas existem bons lugares sim, onde serão bem tratados e atendidos,
logo, não se pode dizer que a casa geriátrica é pior, como não se pode dizer
que em casa é melhor.
A maioria que comenta isso ou posta, com
certeza nunca cuidaram de idosos e estão mais preocupados com a própria imagem
ou em se aproveitar do dinheiro deles.
Falar é muito fácil.
O TABU
Acho que deve ser um tabu falar sobre ter um
idoso, seja pai, mãe, avô, avó, enfim, em uma casa de repouso. Não sei sentem
vergonha de falar ou culpa. Pode ser culpa. Afinal, existe um julgamento
implacável da maioria hipócrita ou desinformada sobre isto. Então não é assunto
muito comentado. É quase uma irmandade: as pessoas que vão visitar seus idosos
ou que trocam palavras sobre isto se reconhecem e se respeitam, mas,
discretamente.
Eu, atualmente, falo sem receio sobre ter pais
em uma casa de repouso. No começo, não. Tinha medo de falar e ser julgado,
afinal, fui colocado contra parede, fui “acusado” de estar cometendo uma coisa
horrível! Fiquei mal, demorei a me acostumar que estava fazendo o correto, então,
evitava falar com algumas pessoas amigas ou desconhecidos. Hoje, não mais.
Tenho consciência de que fiz o melhor. Não me interessa mais o que os outros
pensam. Me interessa o que eu sei, o que
eu passei e que principalmente o que eles passaram antes de se hospedarem na
casa de repouso e como estão bem agora. Agora eu sei que estão sendo cuidados
por pessoas que realmente sabem tratar de idosos.
Até de falar que tem alguém com demência na
família, algumas pessoas têm vergonha ou constrangimento. Foi o caso de uma
pessoa conhecida minha. Não temos amizade e só nos encontramos esporadicamente
por motivos profissionais. Certa vez comentei o que estava acontecendo na minha
família e essa pessoa muito discreta, começou a falar que também tinha uma
pessoa da família na mesma situação. Percebi que se sentiu à vontade para falar
por ter visto a minha “naturalidade”. Aproveitou para desabafar, tirar dúvidas
e trocar ideias, inclusive falou da casa que o parente estava (que é um local
que eu não recomendaria, mas não falei isto). Comentou o reconhecimento da situação
de não estar em uma casa melhor, mas que nada podia fazer, que não teve muita
opção, o local era mais perto da família. Senti que gostou de poder falar à
vontade comigo.
Falar em demência ou alzheimer não é a mesma
coisa, mas, tem um quê de antigamente quando as pessoas tinham alguém com
tuberculose na família ou, posteriormente, câncer. Hoje em dia tais doenças não
são mais um tabu e a demência e outras doenças tomaram o lugar. Só se comenta
quando o parente morre, aí falam até com certo humor das confusões mentais e situações
causadas pela demência, o que na verdade não é nada engraçado, é triste.
Respeito o tempo de cada um porque não é fácil
lidar com isso. Hoje eu lido melhor, depois de algum tempo e de muito
pensamento. E de muita informação também.