DECISÃO
Foi quando decidi que a melhor,
aliás, a única coisa a ser feita era colocá-los em uma
casa geriátrica. E por quê?
Primeiro: porque já era uma questão
de segurança para eles e depois de ler muito e conversar com
pessoas que passaram por situações semelhantes vi que era a única coisa a se
fazer para que tivessem melhor qualidade de vida.
Segundo: em uma casa geriátrica há uma equipe de profissionais
certificados, habilitados e treinados para cuidar de idosos, equipes que cuidam
da limpeza, alimentação e higiene e o principal, que são os cuidados de
enfermagem e médicos. E nós pagamos tudo em uma conta só. Se faltar alguém tem
outras pessoas lá trabalhando; a alimentação está incluída; os remédios são
administrados pelos técnicos e assim por diante. Sem contar com o apoio de
fisioterapeuta e nutricionista. Em casa não tem como administrar todas estas
coisas, a menos que se tenha muito dinheiro e mesmo assim, tem que dar a sorte
de encontrar pessoas de confiança.
Conheço pessoas que
passaram por situação parecida, porém, apenas com o pai ou com a mãe e não com
os dois juntos, como era o meu caso. Além disto sou filho único, ou seja, não
tenho com quem dividir a responsabilidade. Quem cuida de idoso sabe o quanto é
complicado conviver com tudo isto e o desgaste que isso traz, principalmente na
parte emocional. Fui aconselhado não só por pessoas que passaram por isto,
assim como por profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e técnicos) que
acompanhavam meus pais. Ou se tem condições financeiras e sorte de manter uma
estrutura grandiosa em casa ou procure hospedagem em uma casa geriátrica. Das
pessoas que não viveram esta situação, as mais humanas, mais conscientes, centradas
e ESCLARECIDAS ou com um nível intelectual mais elevado, também achavam mais
viável a casa de repouso. As que se abstiveram de comentar, depois concordaram
com a minha decisão.
Depois que cheguei à conclusão de que
a única saída seria levá-los para uma casa geriátrica, comprei uma briga
completamente sem sentido e com pessoas sem sentido.
Como falei antes, as
pessoas mais esclarecidas apoiaram a decisão. Pessoas que eram neutras,
continuaram neutras. Pessoas que tinham algum problema pessoal mal resolvido
(de qualquer natureza) e as que tinham interesses em mantê-los em casa,
resolveram me atacar diretamente.
Eu estava munido de
opiniões e informações médicas, por isto estava certo do que tinha que fazer.
Uma prima que eu não via e
falava há muitos anos resolveu me ligar para se assuntar da situação. Na
verdade, estava querendo me convencer, sem nunca ter visitado meus pais, de que
era melhor eles permanecerem em casa. Perdi horas com ela em alguns
telefonemas, pois, em um primeiro momento, achei que queria me ajudar.
Provavelmente estava em contato com um primo nosso e queria me convencer a
mantê-los em casa, afinal a esposa dele era que trabalhava na casa de meus pais
e ganhava para isso. Percebi através da nossa conversa que ela mal dava conta
da própria vida, tinha uma filha pequena e que a mãe dela estava em um estágio
muito pior que meus pais e sem cuidados adequados (ela mesma falou que a mãe
não se alimentava direito, mal bebia água e que chegou a ficar quinze dias sem
remédio!) e ainda a deixava sair na rua sozinha depois de ter caído e se
machucado gravemente. Vi que estava perdendo meu tempo conversando com alguém
assim.
Meu primo, por sua vez, me
ligou para tentar dar lição de moral e falar frases de efeito. Tivemos uma
conversa muito tensa, pois, fiquei revoltado com sua intromissão quando nunca
se ofereceu para passar uma noite no hospital com meu pai e muito menos foi na
casa deles visitá-los! Era inacreditável! A história é bem maior do que isso e
muito pessoal, o que me faz me abster de entrar em detalhes que já não valem
mais a pena. Resumindo: ele estava muito mais interessado no pagamento que a
esposa dele deixaria de ganhar do que no bem-estar e segurança de dois idosos.
Duas pessoas conhecidas (amigas!)
fizeram questão de me deixar pior do que eu estava (afinal é uma decisão muito
difícil), fazendo comentários e perguntas descabidas. Pessoas estas que nem
passaram por momentos parecidos além de terem tido atitudes duvidosas em
relação aos seus pais e que nem por isso eu os questionei.
Em determinadas situações não precisamos de opiniões e,
sim, de apoio. Quando não se há outra coisa a fazer, os que gostam de nós têm
que se manter ao nosso lado e não nos julgar. Senti-me acusado, julgado e
condenado por estar fazendo o melhor pelos meus pais. Meu cansaço, minhas
questões, minha preocupação e minha luta diária para mantê-los bem não foram
suficientes para abrandar a reação negativa dessas pessoas que não me pouparam
nem um pouco das suas palavras.
Por outro lado, uma prima
que reencontrei após a recuperação do meu pai, me dava apoio, ouvia e
acompanhava meus pais sempre os visitando quando podia. Esta, mesmo morando em
outra cidade, ligava ou ia na casa deles e se inteirava de tudo.
Meus amigos acompanhavam a
minha situação e também me apoiavam, principalmente quem já tinha passado pela
mesma situação. Infelizmente, mesmo quando se tem apoio, as opiniões contrárias
e o julgamento doem muito, nos deixando fragilizados e tristes. Era assim quem
me sentia.
Eu queira cuidar a meus
pais e ao mesmo tempo agradar a pessoas que nada tinham a ver com o que estava
acontecendo. Eu estava ficando doente com todo o processo e ninguém realmente
se preocupava comigo. Eram contra por uma questão de interesse ou,
provavelmente, para resolver alguma questão pessoal através de mim.