Cuidados


MÉDICOS

Tem médicos e “médicos”, como dizem.
Hoje é tudo muito rápido, quase corrido e o atendimento médico, também. Penso que uma consulta de um idoso deveria demorar bem mais, pois, várias situações tem que ser percebidas e isso só pode acontecer com muita conversa e observação.
O médico deveria conversar com o paciente e com o familiar, porque às vezes o idoso pode esconder alguma coisa ou o familiar pode querer induzir a alguma situação. Não sei se já falei disso antes, mas, percebo uma falta de preparo em várias consultas, não em todas. Perguntas superficiais e falta de percepção são comuns. Uma vez que levei meu pai a uma geriatra que na verdade não percebeu uma série de sintomas e não adiantava eu tentar explicar se nem eu mesmo entendia direito, aliás, estava lá para entender! O profissional estava pré-disposto a se livrar da gente.
Se existe uma suspeita de algo, isso tem que ser dito e explicado com os pedidos de exames e encaminhamentos necessários e não deixar o paciente e o familiar sair dali sem saber o que deve fazer ou por onde começar.
A ideia de um tratamento multidisciplinar é muito boa e observei em um lugar que fui, mas ao mesmo tempo não funcionava na prática. Uma vez o idoso na clínica, ele deveria passar por mais de uma especialidade, evitando, também as idas e vindas cansativas. Primeiro conversaria com o geriatra, depois para neurologista, cardiologista, enfim, o que fosse necessário ou mais urgente. Não seria cansativo e teria um diagnóstico mais completo aguardando apenas exames e em uma segunda visita chegar às conclusões. Mas não é o que acontece. Cheguei a esperar dois meses para não receber diagnóstico algum e a cada consulta, em diferentes dias, novos remédios eram prescritos.
O ortopedista comentou superficialmente que meu pai poderia ter um problema neurológico, mas não deu indicação alguma do que deveríamos fazer, dando a impressão de que urgência era a parte ortopédica, até porque não tínhamos como imaginar que havia um problema neurológico já instalado. E o que poderia ser um problema neurológico? Seria algo simples relacionado à idade? E o problema era grave. Se ele tivesse comentado que mesmo adiantando a parte ortopédica deveria fazer uma ressonância só para verificar, até mesmo pela idade dele, teria sido muito menos complicado.
Por isso que acho que existe, sim, uma falta de preparo da parte de alguns médicos.

PREOCUPAÇÃO
Tenho que lembrar não sou feito de ferro, que sou uma pessoa, sou humano. Tenho meus problemas, meus humores, meus maus humores, meus limites e meu cansaço. E o cansaço é cumulativo.
Em todas as visitas que faço eu deveria tentar abstrair. Cada vez é uma preocupação, mesmo que esteja tudo estável, existe o cuidado e este não diminui, não consigo me acostumar a essa situação de vê-los na fase que se encontram e isso me faz mal, me deixa fragilizado, sensível.
Tem dias que não quero fazer visita. Não por eles, mas sei que vou encontrar a mesma situação, sem melhoras. Encontro eles estáveis e não deixa de ser bom, mas mesmo assim continuo preocupado, pois, o fato de saber que não vai haver melhora significa que em algum momento, e é assim para todo mundo, vai haver uma piora e fico sem sossego.
Minha preocupação não é do momento que eles passam e sim do estado que estão. Sei que é uma fase da vida e que muitas pessoas passam por isso, mas não me conforto. Sei que estão com dignidade e estáveis e que tem filhos que encaram com mais naturalidade com o passar do tempo, mas, comigo, ainda não. Ainda não me acostumei e fico mal. Penso também na minha vida daqui a algum tempo, pergunto se estou fazendo o correto comigo para evitar que o mesmo aconteça. Não tenho tido tempo nem oportunidade de cuidar melhor de mim e já não sou um garoto.
Há também outros idosos que eu acabo “adotando”. Pessoas de idade avançada, que foram amigos deles e que acompanham a minha preocupação com meus pais, acabam recorrendo um pouco a mim e eu os escuto, dou atenção, converso e os distraio. Percebo que às vezes ligam para saber deles mas querem muito conversar e desabafar, pois os filhos não dão atenção! Ou de hóspedes da casa onde meus pais estão, que não recebem visitas e me chamam para conversar, dar um abraço. Na carência todos esses que me “solicitam” me sinto bem fazendo-os se sentirem um pouco melhor, mas acabo também ficando mais exausto e com sentimentos mais confusos além dos que já tenho. Os familiares poderiam cuidar e dar mais atenção aos seus.