Minhas impressões



Eu achava que tudo ia melhorar e voltar a ser como era antes. Depois passei a achar que nada ia melhorar e a piora seria em progressão geométrica. Estava muito desesperado e ficando doente, posso dizer que adoeci também.

Com o tempo as coisas não melhoram. E o que acontece é que eu fui aprendendo ou tentando muito aprender a lidar com tudo isso. Acho que nunca vou me acostumar a essa situação, mas, cada dia é um dia que aprendo a conviver.

Junto com a doença dos meus pais vieram também muitas “revelações”: amigos que não são tão amigos assim, família que mais atrapalha do que ajuda, palpites sobram e atitudes faltam e ainda aparece gente para tirar proveito de tudo isso. Tive outras revelações também: fui surpreendido por atitudes positivas de quem não esperava, amigas e amigos queridos estiveram prontos a me ouvir e ajudar e encontrei duas médicas que foram espetaculares em me explicar todo o processo e se solidarizaram comigo, me acalmando, me ouvindo e me fazendo ver que eu estava fazendo o correto.

Fui “acusado”, “julgado” e “condenado” no meio da minha luta por pessoas que eram para estar me ajudando. Vi a verdade das pessoas que me rodeavam e algumas eram muito ruins. O lado bom disso é que agora sei quem é quem. Por isso repito: favores podem custar muito caro, cuidado quando aceitar um!

Tirando a parte pessoal e falando do que mais interessa que é a questão da demência, aprendi que não se pode perder tempo. Todas as consultas e todos os exames devem ser feitos o mais rápido possível. Na minha opinião a evolução pode ocorrer muito rápido e nenhum detalhe pode ser ignorado. É muito melhor prevenir do que remediar.

Falando em remediar, no momento não tem muito o que fazer para tratar de pessoas com demência ou alzheimer. Trata-se de sintomas, atenua-se algumas coisas mas não cessa a progressão. A medicina pode até fazer com que o processo fique mais lento, mas a evolução é certa. É por isso que se torna mais fácil aceitar, encarar a realidade de frente. Manter os remédios, dar toda a assistência necessária, continuar o acompanhamento médico e dar toda a dignidade que a pessoa precisa e merece, e isso é dar carinho, higiene, alimentação e medicação e se possível, alguma forma de atividade física e mental. E aceitar. Aceitar que ainda é um caminho sem volta. Aprender a conviver sem adoecer, sem querer que tudo mude, sem se revoltar e sem deixar de viver a própria vida.